Documento
Sobre
Título
Documentários sobre as jornadas de Junho de 2013 em São Paulo: a polifonia dos protestos expressa em vídeo
Resumo
Esta pesquisa analisa as interações discursivas bem como os percursos narrativos dos protestos de junho de 2013 em dois documentários. Parte da análise dos elementos constitutivos no plano da expressão, homologados no plano do conteúdo, e investiga a construção de simulacros dos destinadores midiáticos no período dos protestos. O corpus analisado é composto de dois filmes, o primeiro de produção independente e o segundo de produção institucional: Com Vandalismo e Junho: o mês que abalou o Brasil. Os enunciados contextualizados ora nas ruas ora pelos narradores em debate, apontam que as inter-relações entre os sujeitos Poder Público, Sociedade e Mídias, constituíram programas narrativos conflitantes. Da mesma forma há a presença de distintos objetos de valor que, em sua maioria, como constatamos, não tiveram sua posse alcançada pelos sujeitos manifestantes. Também a partir da figurativização identificamos conflitos de interesses entre atores. Observamos que a construção dos papéis actanciais e temáticos dos sujeitos sociais dos protestos operada pelos destinadores midiáticos articulou mudanças de direcionamento discursivo ao longo do percurso narrativo dos protestos. Em Com Vandalismo temos sujeito (manifestante-pacífico) e antissujeito (manifestante-vândalo) que disputam visibilidade nas ruas, tendo sido modalizados pela quebra contratual do Poder Público e pelo procedimento de manipulação provocativa das mídias tradicionais. Essas interações nos levam a crer que as relações entre sujeitos nos protestos apresentam uma população que carece de formação política adequada para fazer frente aos seus governantes quando estes descumprirem o contrato democrático. Em Junho: o mês que abalou o Brasil temos diferentes estratégias de manipulação que as mídias tradicionais se utilizaram no período. O destinador Folha de S. Paulo faz uso da fidúcia já consolidada com o público para fazer-crer que toda modalização executada pelas mídias tradicionais no período convergia com a “opinião pública”. Todavia, observamos que as modalizações executadas por esse destinador operaram mais na ordem da veridicção sobre seu próprio discurso do que na doação de um saber político para os destinatários, mobilizando assim muitos sujeitos não-politizados para os protestos, e gerando difusão de pautas que resultaram em transformações nas manifestações populares. Conduzimos essa investigação à luz da semiótica de Algirdas-Julien Greimas, da sociossemiótica de Eric Landowski, além dos estudos de José Luiz Fiorin, de Ana Claudia de Oliveira sobre significação e interações midiáticas, e ainda do teórico de cinema Bill Nichols para tratar os documentários. A importância desse trabalho repousa sobre o fato das jornadas de junho de 2013 terem sido um marco histórico dos movimentos políticos insurgentes no país. Identificamos nos protestos e discussões interações discursivas que podem embasar pesquisas posteriores para compreender outros eventos sociopolíticos que se seguiram a partir desse marco, uma vez que foi constatado o grande potencial manipulativo das mídias, que faz-fazer mesmo sujeitos não competencializados cognitivamente em determinado tema.
Estado (UF)
Autoria / participantes
Organização/Produção
Ano
2016
Palavra-chave
Narrativa | Protestos > Protestos populares | Semiótica > Sociossemiótica